quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Abra-se

Braços

Abertos

Abraço

Beijo de corpo inteiro

Abraço

Que contém outros abraços

Barco cheio de gestos

Braçadas

Invadem ilhas solitárias

Um abraço

Não basta

Desbrave

Abra-se ao abraço

Abrace

terça-feira, 30 de setembro de 2014

domingo, 15 de junho de 2014

Monocromática

A vida na cidade
Escoa
No vão das grades
Ressoa
Sob o som de alarmes
Ecoa
Na ditadura das paredes

A cidade infestada                          
Monólogos
Celulares
Caras amarradas

Há pessoas
Em toda
Parte
Chaves trancas câmeras

Olhares tristes
Nas vitrines
Nas calçadas
Nas sacadas
Pétalas sem cor

A cidade infestada
Rios de carros
Mar de placas
Greve de risos
Bocas fechadas

Doces rostos raivosos
Desvios de caráter
Atores de quinta categoria
Manto de fios
A vida finda
Cinza
A cidade fica

sábado, 24 de maio de 2014

Da mistura à ânsia

Começo calmo

Como quem lê bula de remédio homeopático

Como quem bebe água

Mas engole vodca

Tropeço no meio do raciocínio

Parece que bebo vinho

Lanço frases

Ergo taças

Discuto teses

Faço de conta a companhia

Solitário sorriso tinto

Encerro

Cogito elétrico

A resenha

O resumo

A crônica

O conto

Café feito agora

Termino louco

Vomitando palavras

terça-feira, 1 de abril de 2014

Para não repetir 1964

Abraça a causa
Ou faça
As malas
Alguém gritou em 64
Abraça a causa
Ou vai para a vala
Alguém gritou em 64
Abraça a bandeira
Ou vai para o pau de arara
Alguém gritou em 64
Siga as ordens
Ou levará choque
Alguém gritou em 64
Não incite o povo
Ou vai ter a corda no pescoço
Alguém gritou em 64
Apoie o regime
Ou será perseguido
Alguém gritou em 64
Obedeça a censura
Ou vai sumir da rua
Alguém gritou em 64
Nos muros
Nas faixas
ABAIXO A DITADURA
Para não repetir 1964 

quarta-feira, 26 de março de 2014

Fantasina

Durante a madrugada
Escrever sob o silêncio
Dos que ainda não acordaram
As prostitutas já contaram o dinheiro
Os jornaleiros sequer levantaram
Escrever sozinho no limbo desse horário
A prece apressada por sono
Fantasina que me consome

No silêncio subversivo
Revirar o passado pinçado a pá
Doce palavra escaldada
Sapo salgado a lágrima
Poesia erguida a coice
Verso cheirando a rosas
Espelho quebrado a sobro
Sílaba expelida a tosse
Caneta riscando sangue
Pinguins usando fraque
- Abaixe a voz fantasina
É muito tarde e todos dormem

No escuro mudo tateio
As pontas dos dedos
São mil olhos de mosca
O som do grilo torna-se o da onça
Madrugada carvão
Planos inflamáveis queimam no rubor da face
Amanheço junto às linhas confusas
Suspiro infla o frio na barriga
Merece cadeia quem inventou a insônia
Mesmo que tenha descoberto a rima

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Na porta do AA

Pileques na berlinda
cruzará está porta
firmará o pacto
manterá o corpo sóbrio
a garganta seca
não mijará mais nas calças
muito menos nas calçadas
não provará da maldita bebida
cessará o tropicar da língua
chega de andar alto
não trocará mais o passo
esquecerá a água que o pássaro não bebe
trégua ao teu fígado
estará extinto o hálito etílico
no teu copo
leite café mineral refri
ai de ti
que não resista
repita em voz alta
álcool
só no tanque dos carros.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Ocaso

Impassível
Engoliu o choro
O riso
Pés em raízes
Reteve a lágrima 
Cerrou os dentes
Tornou-se estátua
Olhar de gesso
Ar de gelo
Cara de paisagem
Incorporou o espírito do vidro
Quase invisível
Pura transparência da água
Sem som
Sem fala
Só silêncio
Vestiu o pôr do sol
Face a face com o horizonte
Todas as dores do mundo
Curvaram-se em sua frente