Durante a madrugada
Escrever sob o silêncio
Dos que ainda não acordaram
As prostitutas já contaram o
dinheiro
Os jornaleiros sequer levantaram
Escrever sozinho no limbo desse
horário
A prece apressada por sono
Fantasina que me consome
No silêncio subversivo
Revirar o passado pinçado a pá
Doce palavra escaldada
Sapo salgado a lágrima
Poesia erguida a coice
Verso cheirando a rosas
Espelho quebrado a sobro
Sílaba expelida a tosse
Caneta riscando sangue
Pinguins usando fraque
- Abaixe a voz fantasina
É muito tarde e todos dormem
No escuro mudo tateio
As pontas dos dedos
São mil olhos de mosca
O som do grilo torna-se o da onça
Madrugada carvão
Planos inflamáveis queimam no rubor
da face
Amanheço junto às linhas confusas
Suspiro infla o frio na barriga
Merece cadeia quem inventou a
insônia
Mesmo que tenha descoberto a rima