quinta-feira, 15 de agosto de 2013

De Leminski à Marx


Fazia mercadoria

E a maioria saía
Tal a mercadoria que fazia

Fazia mercadoria

E a mercadoria que fazia
é a mesma
Que nos faz mão de obra vazia

Fazia mercadoria

E a mercadoria que fazia
Era carregada de ideologia

Fazia mercadoria

E fazia do trabalho
A pior alegria da família

Fazia mercadoria

E o salário
Não bancava a folia

Fazia tanta mercadoria
Que nesse poema
Tem excedente e mais-valia

 Inspirado no poema de Paulo Leminski, Fazia poesia. Livro Caprichos e relaxos - 1983.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Notícias do cativeiro

Mãe, o feijão não
engrossou o caldo,
acho que não
vai dar pro gasto,
e ainda falta
todo agosto.
O arroz não dá uma xícara.
A sopa é rala.
Os juros aumentaram.
A conta de luz está mais cara.
Apertei meu cinto,
o pão subiu de preço.
Na boca tem algo incomodando,
vai ver é o dente siso.
A água tem gosto estranho.
A pia continua entupida,
mas a vida segue escoando.
Meu colchão tem um buraco,
durmo agarrado
nas palavras, mãe,
troquei meu travesseiro
por um dicionário.
Aquela paixão antiga,
guardei num baú sem tranca,
por alguns dias
vou tentar ser eu mesmo.
Como pode notar,
continuo escrevendo.
Com esse poema mando notícias,
quanto aos meus problemas,
lavo minhas mãos,
mas e a água, minha mãe,
quem limpa?