quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Estatística em duas rodas

Dezessete da tarde

Sirene em ponto

Uma perna quebrada

Escoriações pelo corpo

Roupas rasgadas

Marcas no asfalto

Séria perfuração no baço

A pressa cobrou os olhos da cara

Até agora fechados


Dezessete e cinco

Massagem cardíaca

Junta a poeira da vida

O peito infla

O pulso não responde

A alma voa longe

Seu nome

Sem sorte

Vulgo óbito

Qualquer lugar a oeste

Corpo na maca

Avenida parada

Infeliz

Cidade

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Para apagar marcas

Reza a lenda moderna
Que é um fardo
Reler o poema romântico
Aquele de babar de sono
Rejeitá-lo até o último ponto
Talvez por ser antigo
Desencontro nas entrelinhas
Cheio de rebarbas
Lascas de frases desfeitas
Promessas inacabadas
Resquícios de batom na gola do título
Um leque de emoções rasgadas
Arrepiando pescoços
Espantando grilos

Reza a lenda moderna
Que nem toda
Reza é brava
Nem todo texto é prosa
Enquanto toda rosa é flor
Nem todo romantismo é amor
Dissabor também é preciso
Entre prosa
Flor e rancor
Será o poema verídico?

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Mofo

Chaveiros e brindes
Medalha sem dedicatória
Canetas secas
Bilhete de uma paixão de inverno
A imagem de um santo
Recortes de jornais amarelados
Extratos do banco
O retrato do meu pai
Frases escritas na adolescência longínqua
Seres inanimados
Até agora resíduos
Jogados no fundo da gaveta
Ganham vida nas mãos da memória
misteriosa deusa às avessas

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

De Leminski à Marx


Fazia mercadoria

E a maioria saía
Tal a mercadoria que fazia

Fazia mercadoria

E a mercadoria que fazia
é a mesma
Que nos faz mão de obra vazia

Fazia mercadoria

E a mercadoria que fazia
Era carregada de ideologia

Fazia mercadoria

E fazia do trabalho
A pior alegria da família

Fazia mercadoria

E o salário
Não bancava a folia

Fazia tanta mercadoria
Que nesse poema
Tem excedente e mais-valia

 Inspirado no poema de Paulo Leminski, Fazia poesia. Livro Caprichos e relaxos - 1983.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Notícias do cativeiro

Mãe, o feijão não
engrossou o caldo,
acho que não
vai dar pro gasto,
e ainda falta
todo agosto.
O arroz não dá uma xícara.
A sopa é rala.
Os juros aumentaram.
A conta de luz está mais cara.
Apertei meu cinto,
o pão subiu de preço.
Na boca tem algo incomodando,
vai ver é o dente siso.
A água tem gosto estranho.
A pia continua entupida,
mas a vida segue escoando.
Meu colchão tem um buraco,
durmo agarrado
nas palavras, mãe,
troquei meu travesseiro
por um dicionário.
Aquela paixão antiga,
guardei num baú sem tranca,
por alguns dias
vou tentar ser eu mesmo.
Como pode notar,
continuo escrevendo.
Com esse poema mando notícias,
quanto aos meus problemas,
lavo minhas mãos,
mas e a água, minha mãe,
quem limpa?

terça-feira, 25 de junho de 2013

Lembra incenso

Denso mistério toca
a copa das árvores.
Nada cai do céu,
a não ser
que o próprio céu
                            D
                            E
                            S
                            A
                            B
                            E

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Coração. Endereço (in)certo

Passada a data comercial,
as flores foram para
o vaso com água.
 
A caixa de bombons
está pela metade.
As roupas devidamente guardadas.
 
Os presentes, enfim,
cumpriram o seu papel.
Passada a data comercial,
hoje, não custa lembrar.
 
Presentes podem ser em forma de palavras.
Assim, mando um milhão de beijos.
Que, nesse caso, o excesso não mata.

domingo, 9 de junho de 2013

Entre elas e o ofício

Tive essa ideia Lúcia
e Aline está,
a poesia Bárbara.
A Carla palavra
que escrevo,
uma Laura de Paulas.
Inspiração não Débora,
Ana logo,
Andressa do céu.
O poema criminoso
deixa Fátimas pelo chão,
mesmo que a Rita não seja
a Norma de parar.
Nessa Sílvia densa de versos,
aguço a Letícia dos olhos,
 viajo nas Andréias.
Marcela que vai dar certo?
Algo do instinto não Kelly que eu pare.
Thaís um bom motivo.
A Luana cheia ilumina a noite,
enxergo a Márcia do rio,
fico de Juremas e peço,
de todas as Marias,
que fique tudo as mil Marinas.
Ester à espreita.
Yasmim não me atinge.
Não faça essa Lara.
Com Bruna vontade não se brinca.
Vanessa se não quiser ler.
Antes Cíntia Verônica,
Érica conversa muito antiga.
Desse mal, quem mais Sofia?
Quem Camila comigo?
Chego as Veras do fim.
O que seria dessa Vitória
se eu não tivesse Edi?

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Nº 03

Tem algo batendo
na porta dos fundos.

Pode ser o mundo
de possibilidades.
Pode ser a saudade
que resolveu bater.
O chegue que voltou.
Pode ser o sol
que retornou do ártico.
O pássaro que errou o voo.

Tem algo batendo
na porta dos fundos.

Pode ser a notícia
que precisa ser ouvida.
A carta
que não quer entrar
por baixo da porta.
O chaveiro
que perdeu-se
da chave.

Tem algo batendo
na porta dos fundos.

Pode ser a luz
que não achou frestas.
A chuva
que caiu com força.
Pode ser o estático absurdo.
 Silêncio absoluto.
A pálida constatação.
Aqui não há
porta dos fundos.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Ante rascunho


Céu noturno pleno,

semblante sereno,

inserido no contexto,

sereno no olhar.

Entre estrelas, a lua.

Entre lembranças, a sua.

Cometas sem causa.

Poema com cauda.

Fazer da palavra, namorada,

morar num retiro espiritual.

Matéria-rima rara, planejo planetas,

parábolas, galáxias.

Orbito tua casa.
 
Procuro tua órbita. Etc. Astral.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Raro rascunho


Entre estrelas

A lua

Entre lembranças

A sua

Cometa sem causa

Poema com cauda

Palavra

Retiro espiritual

Rara

Rima

Astral

terça-feira, 23 de abril de 2013

Evoé papiro


De livro em livro
o pensamento segue irrestrito.
Livram-me das amarras,
 palavras sábias
independem da capa.
De livro em livro
o mínimo traço
vira círculo.
Ontem, tropeçava lendo.
Hoje, voam frases em redemoinho.
Respiro capítulos, parágrafos.
Subtítulos substituem meu vinho,
sorvo goles em tuas páginas,
 sinto-me entorpecido,
ouço o cochicho das traças.
Sinos antigos ecoam em tuas orelhas,
marcadas pro próximo encontro.
Fechado, o livro deixa-me sozinho.
Porém, sigo vivo,
dia após dia, 
de livro em livro.

domingo, 7 de abril de 2013

Ladrões de ideias (Elogio ao plágio)


Lobos comem tua carne

Corvos bicam os ossos

Ratos seguem os rastros

Formigas infestam os restos

Macacos desenham mapas

E seguem a pilhagem

Moscas pousam na merda
 
e as larvas aplaudem

domingo, 24 de março de 2013

Aura


Sopre ventania

leve  a   po      e  i       r      a

deixe   poesia

sábado, 16 de março de 2013

sábado, 9 de março de 2013

Escasso exercício

Tem gente que
 
mal te olha.
 
Poucos olham
 
no rosto.
 
E, cara a cara,
 
quantos
 
enxergam a alma?

terça-feira, 5 de março de 2013

Cai como uma luva

Tapa na orelha

Soco no vácuo
 
O silêncio

Ao pé do ouvido

Sussurra

Quem só conhece

Carinho

Morre na primeira surra

terça-feira, 8 de janeiro de 2013